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Organização em associações transforma a vida de catadoras de mangaba no litoral sul sergipano

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“A mangaba transformou a minha vida, mostrou que é possível ter dignidade e independência. E ainda sonho com o dia em que viveremos somente do beneficiamento da fruta, fazendo doces, biscoitos, licor, bolos, geleias e as infinitas possibilidades que surgirem”. A declaração é de Tainara Nascimento, tesoureira da Associação das Catadoras de Mangaba do Povoado Ribuleirinha, em Estância.

A entidade é uma das oito que integram a Rede Solidária de Mulheres Sergipe, projeto idealizado em 2018 pela Associação das Catadoras de Mangaba de Indiaroba (Ascamai), com o patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental e parceria da Universidade Federal de Sergipe (UFS). A convite da Petrobras, um grupo de pessoas foi conhecer de perto o trabalho desenvolvido por meio do projeto nos povoados do litoral sul do Estado, Manoel Dias e Ribuleirinha, em Estância, e Pontal, em Indiaroba.

A técnica do segmento de Gastronomia do Senac Sergipe, Marta Moreira Aguiar, acompanhou a visita e já vislumbra propostas para ajudar a aumentar o aproveitamento da fruta na produção de alimentos.

“A troca de informações foi bem interessante e começamos a pensar em que poderíamos ajudar na cadeia produtiva da mangaba. As catadoras nos informaram que somente a polpa, que corresponde a 30% da fruta, é aproveitada. Os caroços são descartados, então começamos a pensar como aproveitá-los, seja fazendo a torra e trituração para a produção de uma farofa, de um praliné”, comentou.

Cada associação tem uma produção própria que, com o patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental, tem receitas que foram elaboradas com acompanhamento nutricional e possuem fichas técnicas.

“Nas três associações, são cerca de 20 receitas, de bolos, geleias, balas, licor, biscoitos, sorvetes e outros produtos, todas catalogadas”, informa Mirsa Mara Barreto Xavier Leite, coordenadora desde 2011 do Projeto Catadoras de Mangaba, que foi estruturado a partir do movimento das mulheres que garantiam parte do sustento da família com a cata da fruta, iniciado em 2007.

A presidente da Ascamai, Alícia Santana, faz parte do movimento desde o início e relembra como tudo começou.

“Foi a partir de uma coleta de informações sobre a cadeia produtiva da mangaba que pesquisadores estavam fazendo. Eles começaram a indagar sobre o trabalho e me fizeram pensar. Naquela época não tinha união entre catadores, mas sim, competição. A fruta que não conseguíamos vender ou trocar por alimentos, jogávamos fora. E foi com o incentivo deles que começamos a nos organizar, valorizar o nosso trabalho”.

Essa organização atualmente vai além de apenas beneficiar o fruto. As mulheres se apoiam e conquistam independência de situações de fragilidade social.

“Tomamos conta uma das outras, mesmo com nossas diferenças. Ajudamos com filhos, nos revezamos nos afazeres da produção, nos valorizamos como mulheres, negras e buscamos a nossa independência financeira. Tudo isso foi e está sendo possível graças à organização em associações e à Rede Solidária de Mulheres, onde fizemos cursos, entendemos como aproveitar a mangaba e obter lucro com a fruta”, declara Tainara Nascimento, que sonha um dia tirar seu sustento unicamente no beneficiamento da mangaba.

Essa transformação chegou na comunidade do povoado Manoel Dias, onde hoje existe um viveiro de mudas da fruta e as mangabeiras estão espalhadas no entorno das casas dos moradores. Por lá, o suco preparado por tia Dilva, presidente da Associação da Catadoras de Mangabas da localidade, é famoso.

“Nós temos hoje mais de 40 mulheres associadas. Além da polpa da fruta, fazemos biscoitos, balas e geleias e outros produtos. Temos o nosso viveiro e um desidratador solar, onde conseguimos produzir a manta da mangaba sem adição de açúcar e geleia com redução de 50% do açúcar utilizado. Os apoios dos projetos de Catadoras de Mangaba e Rede Solidária de Mulheres foram fundamentais para hoje lucrar com a fruta”.

A organização das catadoras do litoral sul sergipano é um dos três roteiros do turismo de base comunitária implantados em Sergipe, que tem à frente o professor do Departamento de Turismo da UFS, Denio Santos Azevedo.

“Trabalhar esse roteiro é gratificante. Perceber a transformação de cada mulher que faz parte da rede, que se tornou protagonista da sua história, ouvir o relato da vida dela, me faz um ser humano melhor. É um aprendizado constante, cada vez que percorro essa e as outras duas rotas. É muito bom perceber o quanto elas aprenderam sobre o coletivo e que não largam as mãos umas das outras. Esta é uma evolução coletiva, conquistada pela força dessas mulheres”.

A Petrobras apoia em todo o país mais de 90 projetos sociais. A visita organizada para o “Destino III: Suco, Águas, Brisas e Trilha Aratu”, que envolve Estância e Indiaroba, contou com a presença da gerente de Programas Sociais da Petrobras, Marcela Levigard.

“Recebo as informações dos projetos, mas conhecer de perto, ver que estamos contribuindo para a transformação de uma comunidade, é gratificante. Ouvir os relatos dessas mulheres sobre a importância da organização social, delas trabalharem juntas e organizadas, do empoderamento feminino, numa área aberta, embaixo de um cajueiro, nos dá uma perspectiva ampliada sobre a importância dos programas sociais da instituição. O principal para mim é saber que estamos contribuindo para que elas se fortaleçam como grupo”.

 

Observatório gastronômico

Representante regional de Sergipe no Observatório do Patrimônio Gastronômico do Nordeste e Espírito Santo (Opanes), a técnica em gastronomia do Senac, Marta Moreira, já havia iniciado uma pesquisa sobre a mangaba, um alimento que representa Sergipe.

“Essa visita às associações foi muito importante para trocarmos experiências com as catadoras de mangaba, saber como elas estão beneficiando a fruta, sentir os sabores dos produtos e pensar em alternativas para um maior aproveitamento, tanto da polpa como dos caroços”, comenta.

Marta observa que a geleia pode ser utilizada em pratos salgados e saladas, como um sabor típico sergipano.

“A geleia pode ser misturada ao azeite, limão e outros produtos, para ser transformada em molhos, que podem acompanhar um peixe ou uma salada. Experimentamos geleias com redução de açúcar e que conservam bem o sabor mais cítrico da mangaba”, disse, observando que o sorvete preparado pela Ascamai, pode servir com espuma, num drink à base de mangaba. “Quando experimentamos, observamos a cremosidade do sorvete, que lembra muito a espuma preparada com outros ingredientes, a exemplo do gengibre”.

A técnica em Gastronomia pretende debater com outras instituições e órgãos, a ampliação do apoio às catadoras e o fomento do consumo de produtos à base de mangaba.

“As catadoras estão organizadas em associações e ajudá-las nessa conquista do autossustento somente da fruta é cumprir o papel social do Senac, enquanto instituição de educação profissional.  Muitas delas sonham em tirar seus sustentos somente do beneficiamento da mangaba”.

Alexandra Brito

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