Educação
Massoterapeuta com deficiência visual dá exemplo ao retornar ao Senac para se qualificar
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2 anos atrásem
Quando estava prestes a completar 28 anos de idade, a massoterapeuta Patrícia Amaral da Silva teve que ressignificar toda a sua vida. Uma trombose cerebral a deixou cega, quando ainda morava no Rio de Janeiro. Tempos depois, ela resolveu voltar com a família, o marido e os três filhos, para Sergipe, onde nasceu. Mesmo com a visão subnormal – ela só percebe luz e vultos -, ela resolveu seguir adiante, continuar trabalhando, cuidando da família e se qualificando.
Egressa do Senac do Rio de Janeiro, Patrícia completa este ano, no dia 30 de março, 41 anos de idade. Hoje reside em Lagarto, onde trabalha com massoterapia e resolveu voltar à sala de aula, na unidade do Senac de Aracaju.
“Já fiz alguns cursos particulares em Lagarto e soube que ia ter esse de massagem chinesa no Senac, em Aracaju. Resolvi me inscrever e fui muito bem acolhida por todos. Quando cheguei no primeiro dia, entrei pela Avenida Ivo do Prado, que não é a entrada da escola, mas fui muito bem recebida pelo segurança e logo depois pela Sílvia. Me senti coberta de carinho que a minha situação de deficiente visual necessita, pela equipe pedagógica, pelo instrutor Guerra, que fez os alunos do curso encararem com naturalidade a minha presença e pelos meus colegas, que entenderam que tenho capacidade”, ressaltou.
A psicóloga do Núcleo de Promoção Social e Relações com Egressos (NPRE) do Senac/SE, Sílvia Conceição ressalta que a instituição busca atender cada aluno com sua singularidade.
“Temos um programa de acessibilidade que vai muito além das questões arquitetônicas. São diversas ações que possibilitam o acesso e acolhimento de todos que buscam a educação inclusiva. Essas ações são evidenciadas desde o ato da matrícula, passando pelos benefícios oferecidos aos PCDs, quais recursos cada um deles precisará para que tenha uma excelente aprendizagem e aproveitamento do curso”.
Com experiência de cerca de uma década com o público que possui baixa visão, o instrutor Willian Guerra conduziu as aulas do curso com muita naturalidade.
“Assim que ela chegou, fiz as apresentações e relatei a deficiência de Patrícia, deixando claro para todos que alunos com ela são normais como nós, só enxergam de forma diferente. Todos a receberam bem, entenderam que ela precisava receber as demonstrações, os toques primeiro nela, para que percebesse e aprendesse as técnicas. Ser comunicativa e gostar de fazer amizades ajudou na relação com todos da turma”.
Para Patrícia, o Senac é uma instituição referência em todo o Brasil, pela excelência dos cursos que oferta, onde ela fez inclusive o curso técnico de nível médio, no Rio de Janeiro.
“Fiz o ensino médio técnico quando eu era adolescente, em 1996 e as minhas referências do Senac sempre foram as melhores possíveis. Me formei no ensino médio e anos depois, já deficiente visual, em 2009, resolvi fazer o Enem, porque até então eu não tinha feito o ensino superior. Apesar de ter mais de 10 anos sem estudar, fiz o Enem e obtive uma pontuação de 728 e tirei 920 na minha redação. Esse bom resultado, eu associo ao que aprendi e a boa base que tive no Senac”.
Foi essa confiança na instituição e nas capacitações que ofereceu que fez Patrícia decidir retornar ao Senac.
“Sempre tive a certeza de que o Senac é uma instituição que passa credibilidade, onde os alunos adquirem uma boa formação. E fui muito bem recebida. Os colegas do curso entenderam que eu precisava ser a primeira a receber as massagens, porque sentiria as manobras para depois aplicá-las nelas de volta. Me senti super bem com todos e como sou tagarela, foi fácil nos entendermos”.
A enfermeira Josiane Melo do Prado confirma que a convivência com Patrícia durante as horas de curso foi uma experiência bastante positiva.
“A convivência foi bastante enriquecedora, pois foi a primeira vez que tive contato com uma pessoa com deficiência visual, dentro da sala de aula. Fiz amizade com Patrícia e todos da turma buscaram ajudar ela da melhor forma. E foi muito bom porque nos mostrou que pessoas com alguma deficiência podem fazer cursos e ter uma vida profissional ativa”.
Com um olhar humanizado, o curso de massagem chinesa atraiu Patrícia por ser uma terapia de cuidado.
“Dentro da massoterapia, temos várias ramificações, a exemplo das massagens estéticas, as drenagens linfáticas, que já tenho o conhecimento e as técnicas. Mas dentro da massoterapia, eu me sinto identificada é a terapia de cuidado, que é o que a massagem chinesa oferece. É tratar o sintoma junto com o paciente, tratar o indivíduo por completo, o que está causando o desequilíbrio energético dele. E a partir desse diagnóstico, podemos sugerir as técnicas para eliminar o problema”.
Ressignificar sempre
A cada dia, Patrícia tenta ressignificar a vida, com alegria e cercada pelo carinho do marido e dos filhos, inclusive a mais nova que não chegou a ver.
“Imagino a fisionomia da minha filha pela memória que tenho do meu filho mais velho, Miguel, pois todos dizem que ela parece muito com ele”, relata Patrícia, que após a cegueira engravidou duas vezes, de duas meninas. “Já tinha os meninos, Miguel e Maurício e depois de tudo que passei, vieram as meninas. A primeira, Maria, eu perdi e a mais nova, Melissa, já está com sete anos. Eles dão sentido à minha vida, todos os dias. Meu marido, Marcus Paulo e meus filhos me apoiam nas minhas decisões, para que eu tenha uma vida ativa, inclusive profissional”.
A gerente do NPRE, Marileide Martins, informa que o Senac, enquanto instituição de educação profissional, assegura a oferta dos cursos para o público PCD.
No primeiro curso de qualificação ou oficina, o aluno PCD tem isenção total. A partir do segundo, tem 50% de desconto. Nos cursos técnicos só pagam a metade do valor total.
“Através do programa de acessibilidade, valorizamos as diferenças humanas e oportunizamos a formação profissional para todos, cumprindo a nossa missão de educar para o trabalho. Ouvir relatos dos nossos alunos, como o de Patrícia, demonstrando a satisfação de participar dos cursos, além de ser gratificante, concretiza um dos objetivos do programa que é o direito ao exercício pleno da cidadania. A inserção desse público nos processos sociais, por meio da qualificação profissionalizante, só confirma que oferecemos uma educação inclusiva de excelência”.
Senac/SE
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