Economia
Nova Abordagem de Crescimento Econômico – Brasil precisa melhorar
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O Fórum Econômico Mundial (WEF) lançou o “The Future of Growth Report 2024” que aborda o futuro do crescimento mundial, porém, alerta que o crescimento deve ser orientado pela sua qualidade.
De acordo com o relatório, o crescimento global foi mais lento na última década em comparação com as anteriores, e a recuperação pós-pandemia está perdendo dinamismo. O PIB global total das 107 economias analisadas é hoje superior ao nível pré-pandemia, mas as taxas de crescimento em 2023 permanecem abaixo dos 4% em todos os grupos de rendimento.
A proposta é de uma nova forma de enxergar o crescimento. Esse novo olhar, considera uma abordagem multidimensional que se concentra na avaliação da qualidade do crescimento e no equilíbrio entre várias prioridades, em vez de agregá-las num único índice. A nova abordagem está alicerçada em quatro pilares que avaliam a qualidade do crescimento: Inovação, Inclusão, Sustentabilidade e Resiliência.
A nova estrutura visa apoiar os gestores públicos na avaliação do caráter e da natureza do crescimento econômico de um país e na identificação de compromissos a resolver ou de sinergias a explorar.
Do crescimento que temos ao crescimento que precisamos
Conceitualmente, o crescimento econômico pode ser definido como um aumento na quantidade ou qualidade da produção de bens e serviços num país ao longo do tempo. Normalmente é medido pelo crescimento do produto interno bruto (PIB). O crescimento é importante principalmente porque muitos desses bens e serviços contribuem para a qualidade de vida das pessoas: desde alimentação básica e habitação, até coisas mais complexas, como tecnologias médicas ou segurança.
Gráfico 1. Crescimento do PIB (%) por faixa de renda em períodos selecionados
Nova Abordagem: Crescimento qualificativo
De acordo com o relatório, entre 2018 e 2023 – em média – o PIB das economias de rendimento elevado cresceu anualmente 1,4%, 2,2% nas economias de rendimento médio-alto, 3,1% nas economias de rendimento médio-alto, e para as economias de rendimento médio e de rendimento baixo, 3,1%.
Resultado Global da Nova Estrutura do Futuro do Crescimento
A aplicação da nova abordagem do Futuro do Crescimento a um conjunto de dados globais de países revela disparidades no crescimento entre as quatro dimensões qualitativas. As médias globais traçam um quadro misto da trajetória mundial rumo a um crescimento inovador, inclusivo, sustentável e resiliente.
Segundo o relatório, conceitualmente, a economia mundial como um todo chegou a meio caminho de uma trajetória hipoteticamente ideal de crescimento totalmente inovador, inclusivo, sustentável e resiliente.
A inovação é a dimensão que atinge a pontuação global mais baixa (com uma média global de 45,2 em 100), impulsionada principalmente pela elevada concentração de centros de inovação num número limitado de economias.
A média global da dimensão sustentabilidade é de 46,8 em 100, enquanto as pontuações médias globais das dimensões de inclusão e resiliência são de 55,9 em 100 e 52,8 em 100, respetivamente.
A nível individual, nenhum país ou economia atingiu uma pontuação de pilar superior a 80 em qualquer uma das quatro dimensões do quadro, onde 100 é o resultado teórico máximo possível. Ver a figura 1.
Fig. 1. Resultado Global – Pontuações do Quadro do Futuro do Crescimento
Resultado Global por Pilar da Nova Estrutura do Futuro do Crescimento
[1] Pilar de inovação
De acordo com o relatório, a inovatividade apresenta a maior diferença entre valores máximos e mínimos, poucas economias estão a seguindo uma trajetória de crescimento essencialmente alinhada com a inovação.
A média global do pilar de inovatividade é de 45,2, mas com grandes diferenças de resultados entre os grupos de renda dos países. A pontuação média das economias de alta renda (59,4) é mais do que o dobro da pontuação das economias de baixa renda (26,8) e cerca de 50% maior do que a pontuação das economias de renda média-alta (39,3), revelando um alinhamento cada vez maior da inovação nas trajetórias de crescimento dos países à medida que aumentam seu PIB per capita.
Esse resultado está de acordo com a teoria econômica, segundo a qual a capacidade de inovar melhora com o desenvolvimento econômico em ciclos virtuosos.
Apenas 15 economias ultrapassam a marca dos dois terços, com o resultado mais elevado do país a atingir uma pontuação de 80,4. Mais de 70 economias apresentam uma pontuação no pilar da Inovação inferior a 50 em 100. Ver a figura abaixo.
Fig. 2. Mundo: Pontuação Pilar inovação (por nível de renda)
[2] Pilar de Inclusão
O relatório revelou que a média global do pilar Inclusão é de 55,9, com diferenças marcantes de resultados entre os grupos de renda dos países. A pontuação média de crescimento inclusivo das economias de alta renda (68,9) é mais do que o dobro da pontuação das economias de baixa renda (30,0) e cerca de 50% maior do que a das economias de renda média-baixa (44,8), destacando uma forte correlação entre os níveis de renda per capita e os resultados de inclusão. As economias de renda média-alta (54,8), em média, apresentam um desempenho de crescimento inclusivo um pouco mais forte em comparação com seu desempenho em inovação, mas, ainda assim, ficam bem atrás das economias de renda alta (figura 3).
Fig. 3. Mundo: Pontuação Pilar inclusão (por nível de renda)
[3] Pilar de Sustentabilidade
Mais da metade do PIB global é moderada ou altamente dependente da natureza e dos recursos naturais.
Segundo o relatório, a média global do pilar sustentabilidade é de 46,8, destacando a falta de progresso suficiente em relação às metas climáticas, já que a maioria dos países continua crescendo de forma não sustentável. As tendências dos grupos de renda para esse pilar divergem das outras três dimensões da Estrutura do Futuro do Crescimento, sendo que as economias de baixa renda (52,7) e as economias de renda média-baixa (50,0) apresentam, em média, um crescimento alinhado à sustentabilidade mais forte em comparação com o resto do mundo, devido ao menor uso de recursos até o momento, compensando o desempenho mais fraco em finanças e tecnologia verdes.
As economias de alta renda (45,8) e as economias de renda média-alta (44,0), por outro lado, compensam parcialmente as emissões mais altas com um desempenho mais forte em tecnologia ambiental, o que dá margem à esperança de que uma dissociação parcial do impacto ambiental do crescimento da produção possa se tornar visível nos dados, possibilitando trajetórias de crescimento mais fortes e alinhadas à sustentabilidade nos próximos anos (figura 4).
Fig. 4. Mundo: Pontuação Pilar sustentabilidade (por nível de renda)
[4] Pilar de Resiliência
O relatório revelou que a média global do pilar Resiliência é de 52,8, com diferenças de resultados mais moderadas entre os grupos de renda dos países em comparação com os pilares Inovação e Inclusão. Os países de alta renda apresentam o desempenho de crescimento resiliente mais forte (61,9), seguidos por países de renda média alta (50,0) e países de renda média baixa (45,8) em relativa proximidade. Os países de baixa renda apresentam o crescimento menos resiliente (39,0) (figura 5).
Fig. 5. Mundo: Pontuação Pilar resiliência (por nível de renda)
[5] O Brasil na Nova Estrutura Futura de Crescimento
O Brasil está posicionado entre as economias de rendimento médio-alto, com um PIB médio de US$ 17.9 mil per capita em 2023, um crescimento médio anual do PIB per capita de 1,32% nos últimos cinco anos.
No que se refere â nova estrutura de crescimento sugerida pelo Fórum Econômico Mundial, o relatório mostrou que o Brasil apresentou um bom desempenho nas pontuações que qualificam o crescimento econômico.
No pilar inovação, o país pontuou 41,8, abaixo da média global (45,2), com espaço para melhorar. É extremamente importante e urgente que haja investimentos e parcerias em inovação para mudarmos a nossa rota de crescimento.
No pilar inclusão, o Brasil pontuou 55,3, alcançando a média global (55,9), com possibilidades de melhorar nos próximos anos.
No pilar sustentabilidade, o país superou a média global (46,8) e pontuou 56,0. O Brasil destaca-se positivamente em recursos hídricos e produção agrícola, conferindo-lhe resiliência a eventos que afetam esses suprimentos essenciais. A diversificação da matriz energética e os investimentos em energias renováveis posicionam o país de forma vantajosa diante das crescentes tendências de transição energética e descarbonização.
Por fim, no pilar resiliência o país alcançou a pontuação 52,0, quando a média global foi de 52,8.
Temos ainda um longo caminho a percorrer, o país precisa melhorar mais no quesito desigualdade econômica, inovação, educação e outros quesitos que acabam impactando nos pilares da nova abordagem de crescimento econômico. Há esperança. Ver a figura abaixo com as pontuações do Brasil.
Fig. 6. Brasil: Futuro do Crescimento – Pontuação por Pilar
Algumas Considerações
O crescimento econômico continua sendo a melhor maneira de aumentar o padrão de vida, mas o crescimento por si só não é mais suficiente, principalmente se for distribuído de forma desigual, propenso a choques ou obtido às custas do meio ambiente.
Os resultados do Relatório sobre o Futuro do Crescimento revelam que a maioria dos países continua a crescer de forma não sustentáveis nem inclusivas, além de serem limitados em sua capacidade de gerar inovações prontas para o futuro e minimizar sua contribuição e suscetibilidade a choques globais.
Segundo o Fórum Econômico Mundial, à medida que o mundo enfrenta muitos desafios globais (guerras, mudança climática, migrações etc), a fragilidade das estratégias de resiliência com foco nacional está se tornando cada vez mais evidente. As forças nacionais estão tendendo ao protecionismo e ao isolacionismo.
O relatório serve como um chamado à ação para que os líderes avaliem e reavaliem seus modelos e políticas de crescimento. O caminho de cada país para um crescimento inovador, inclusivo, sustentável e resiliente é único. Os dados e a análise apresentados no relatório podem ser usados para identificar possíveis áreas a serem melhoradas, compensações a serem resolvidas ou sinergias a serem exploradas.
Economia e Inovação
Por: Sudanês B. Pereira
Economista, com formação na Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestre em Geografia (desenvolvimento regional) e Especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Experiências no setor governamental (municipal e estadual), setor privado (Associação Comercial Empresarial de Sergipe – ACESE e Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo – Fecomércio), foi professora substituta no Departamento de Economia na UFS, pesquisadora e uma das fundadoras do Núcleo de Propriedade Intelectual, hoje Cintec-UFS.
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